Monday, March 22

Reflectindo: Domingo V da Quaresma (II)

O Evangelho que escutamos hoje, segundo São João, apresenta-nos Jesus no templo a ensinar ao povo. Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, colocaram-na no meio dos presentes. Esta mulher tinha cometido uma falta que merecia a morte. Para os escribas e fariseus, trata-se de uma grande oportunidade para testar a fidelidade de Jesus às exigências da Lei, de uma enorme cilada. Se Ele dissesse que se devia apedrejar a adúltera, os seus inimigos conseguiriam denegrir a sua misericórdia para com os pecadores e poderiam denunciá-lo à autoridade romana por mandar executar algo que não era da sua competência. Se dissesse que se lhe devia perdoar, podia vir a ser acusado ao Sinédrio como advogado da desobediência à Lei. Jesus, porém, começa a escrever com o dedo no chão. S. Jerónimo comentou curiosamente que se pôs a escrever os pecados dos acusadores. Se é verdade ou não, não sei mas certamente é uma atitude de apelar à reflexão e a examinar a consciência dos acusadores desta mulher.
Quem não tiver pecados atire a primeira pedra. Jesus fá-los olhar para dentro de si próprios. Cada um deve ser juiz de si mesmo e pouco apressado a julgar os outros. Mas Jesus põe a questão noutros termos: não se trata de escolher entre a observância da Lei e a misericórdia, entre a justiça e a caridade, mas sim entre a mentira e a verdade, entre a hipocrisia dos acusadores e a sinceridade de quem se reconhece pecador e chora o seu pecado.
Este episódio realça a hipocrisia do homem, sempre disposto a julgar e a condenar os outros. Jesus denuncia a lógica daqueles que se sentem perfeitos e auto-suficientes, que se sentem santos e bons, sem reconhecerem que estamos todos a caminho e que, enquanto caminhamos, somos imperfeitos e limitados. É preciso reconhecer, com humildade e simplicidade, que necessitamos todos da ajuda do amor e da misericórdia de Deus. A única atitude que faz sentido é assumir para com os nossos irmãos a tolerância e a misericórdia de Deus.
A lógica de Deus não é uma lógica de morte, mas uma lógica de vida; a proposta que Deus faz aos homens através de Jesus não passa pela eliminação dos que erram, mas por um convite à vida nova, à conversão, à transformação.
Nem Eu não te condeno. Vai e não tornes a pecar. O Senhor mostra-se tolerante e compassivo para com a pessoa que peca e ao mesmo tempo intransigente para com o pecado. Apela-a ao arrependimento e ao propósito de emenda. Tal como no sacramento da Confissão, embora saibamos que podemos voltar a cair estamos dispostos a lutar contra o pecado.
Ao tomar a atitude da não condenação, Jesus não aprovou o pecado da mulher. Apenas quis ensinar que não se acaba com o pecado eliminando o pecado, mas oferecendo-lhe as condições de vida e ajudando-lhe a converter-se. É que a lei foi feita para o homem e não o homem para a lei. Só Deus pode julgar e condenar. Ele não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva.

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