Wednesday, February 29

Quarta-feira da Semana I da Quaresma


Temos hoje o tema da penitência, no sentido de conversão. Outrora, até os pagãos, como os habitantes de Nínive, ao ouvirem a palavra de Deus, se converteram. Hoje, não esperamos outros sinais do céu; é sempre essa mesma palavra que é para os homens de todas as gerações o grande sinal. Para ser sinal, a Palavra, o Verbo, o Filho de Deus, fez-Se homem e falou no meio dos homens, em palavras humanas, para Se revelar e revelar o Pai aos humanos.
O livro de Jonas ensina-nos que a misericórdia de Deus não se limita ao povo eleito, mas atinge todos os homens. O profeta é enviado a Nínive, capital da Assíria e anuncia a destruição dessa enorme cidade, destruição motivada pela maldade dos seus habitantes. Na primeira vez, Jonas tentou esquivar-se à missão, demasiado grande para alguém tão pequeno e frágil.

O povo aglomerava-se em volta de Jesus para O ouvir. Mas Jesus faz-lhes sentir que eles são mais curiosos, sempre à espera de qualquer sinal maravilhoso, do que desejosos de escutar a sua palavra, que dá luz e leva à conversão. E lembra-lhes como os habitantes de Ninive se converteram ao ouvirem Jonas, como recordava a primeira leitura, e como a rainha de Sabá, veio de tão longe só para ouvir o sábio Salomão. E ali estava Ele, maior que Jonas, e mais do que Salomão, mas que não era escutado com fé semelhante à daqueles seus antepassados, nem eles se deixavam conduzir à penitência como aqueles a quem Jonas pregava. Prefigurado por Jonas, mas maior do que ele, e mais do que Salomão, cuja sabedoria atraía de longe a rainha de Sabá, Jesus aqui está, também agora no meio da assembleia dos cristãos, a fazer-Se, de novo, ouvir; como sempre que na Igreja se lêem as Sagradas Escrituras.

O sacramento da Penitência é o sacramento por excelência da conversão, «porque realiza de modo sacramental o apelo de Jesus à conversão e o esforço de regressar à casa do Pai, da qual o pecador se afastou pelo pecado. Preparemo-nos para o receber com muita piedade nesta Quaresma.

Tuesday, February 28

Terça-feira da Semana I da Quaresma


A liturgia dos primeiros dias da Quaresma dá-nos as grandes linhas para a vida cristã nesta preparação pascal. A primeira leitura de hoje apresenta a palavra vinda de Deus como força portadora de vida, capaz de produzir em nós uma renovação profunda. A palavra de Deus é o grande alimento deste tempo de jejum quaresmal. A palavra é a mediação através da qual o homem sente a Deus como próximo e como ausente, uma vez que os seus caminhos não são os nossos caminhos; é uma realidade viva, enviada do céu para realizar a salvação; é eficaz pois é capaz de realizar o seu objectivo, tal como a chuva e a neve, que fecundam a terra e lhe dão capacidade de produzir frutos. A Palavra de Deus é o próprio Cristo, que saiu do Pai e veio ao mundo para manifestar a vontade do Pai e a mesma Palavra nos enche de consolação e esperança.
Na Quaresma preparamo-nos para receber abundantes graças de Deus como a chuva e a neve que caiem do céu. A nossa conversão consiste em ouvir a palavra de Deus e que produza o seu efeito.

O Evangelho ensina-nos como responder à palavra de Deus na oração: não rezar como os pagãos, que julgam dever usar muitas palavras para atrair a atenção ou a benevolência das suas divindades; Deus, nosso Pai, está sempre atento a cada um de nós e conhece aquilo de que precisamos; mais do que falar muito, há que ter, diante d´Ele, uma atitude de filhos; no diálogo profundo em que o homem derrama a sua alma diante de Deus, a quem ousa chamar Pai. A oração é uma das ocupações principais do cristão na Quaresma. Jesus ensina-nos hoje como a oração deve ser, antes de mais, a voz do coração animado pela fé, pela esperança e pelo amor filial para com o Pai celeste, como o próprio Senhor fez durante os 40 dias que passou no deserto.
As leituras de hoje recordam-nos duas petições desta oração. A primeira seja feita a vossa vontade, exige que acolhamos a palavra que sai da boca de Deus e que a cumpramos. A segunda perdoai-nos as nossas ofensas, pois o perdão é a condição fundamental da reconciliação dos filhos de Deus com o seu Pai e dos homens entre si.

Friday, February 24

Sexta-feira de Cinzas


O jejum é forma tradicional da penitência quaresmal, não se substitui a outras obrigações, à frente das quais estão as da justiça e as da caridade. O jejum é um sinal da libertação do nosso espírito, para melhor servirmos a Deus e ao próximo, porém a maior de todas as virtudes é a caridade. O profeta pretende alertar o povo para a falta de autenticidade com que vive, proclamar o verdadeiro jejum e só tem sentido e valor quando se torna expressão de amor a Deus e ao próximo (O jejum que Me agrada: quebrar as cadeias injustas, desatar os laços da servidão, pôr em liberdade os oprimidos, destruir todos os jugos? Não será repartir o teu pão com o faminto, dar pousada aos pobres sem abrigo, levar roupa aos que não têm que vestir e não voltar as costas ao teu semelhante?) e indicar as consequências da ligação do jejum à prática da justiça (Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á a tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor).

No Evangelho, os discípulos de Jesus são acusados de não Jejuarem. Jesus responde dando a entender que, com Ele, começaram os tempos messiânicos, o tempo das núpcias, o tempo escatológico anunciado pelos profetas, tempo de alegria durante o qual não se jejua, pois o Esposo está presente. Mas muitos não conseguem ver em Jesus o Messias esperado e não reconhecem que o Reino de Deus é festa, é pérola pela qual se está disposto a deixar tudo com alegria. O jejum cristão não consiste apenas em abster-se de alimentos. Consiste em desejar o encontro com Jesus salvador.
Os dias em que o esposo será tirado é uma alusão à morte de Jesus. Esses dias serão os dias de jejum por excelência da comunidade cristã. A Quaresma prepara para a celebração do Tríduo Pascal. É neste espírito de participação na paixão do Senhor que jejuamos na Quaresma, na forma e na medida em que o acharmos oportuno e a generosidade do nosso coração o inspirar, para morrermos com Ele e com Ele ressuscitarmos.

Wednesday, February 8

Quarta-feira da Semana V do Tempo Comum


A rainha de Sabá vem a Jerusalém atraída pela fama de Salomão, o mais sábio e poderoso rei do seu tempo naquelas partes do mundo. Talvez nesta visita houvesse também razões comerciais, o que seria muito natural naquelas regiões, que viviam da troca de produtos. Mas foi sobretudo a sabedoria de Salomão que encantou a rainha. Salomão é o rei sábio, isto é, justo desse reino. A sua sabedoria veio-lhe de Deus, a Quem a pediu. Por isso, a rainha de Sabá pode exclamar: Felizes os teus homens, felizes os teus servos que estão sempre contigo e ouvem a tua sabedoria. Um dia, porém, Jesus, a Sabedoria de Deus, incriada e n’Ele encarnada entre os homens, dirá que, com a sua presença, está no meio de nós Alguém maior do que Salomão.

A rainha de Sabá foi ter com Salomão. As multidões também se aproximavam de Jesus. Ambos tiravam as dúvidas sobre os problemas.
A fonte de todo o bem ou de todo o mal que o homem vier a praticar está no seu coração. Com as palavras que hoje ouvimos proclamar, quer o Senhor fazer-nos compreender que é a atitude do coração que dá o verdadeiro sentido a todas as acções dos homens. Por isso, é o coração que, antes de mais, deve ser purificado. De facto, o coração é o que há de mais astucioso e perverso; mas Deus é maior do que o nosso coração. O mais importante é o comportamento dos homens diante das exigências do reino de Deus. A pureza ou a impureza das coisas depende do coração do homem. É a atitude do homem perante elas, é o uso que faz delas que as pode tornar impuras. Não há nada sagrado ou profano, puro ou impuro em si.
No episódio do Evangelho, Jesus explica a importância que tem o interior do homem: Pois do interior do coração dos homens é que saem os pensamentos perversos. É um chamamento para vermos como está o nosso interior.

Wednesday, February 1

Quarta-feira da Semana IV do Tempo Comum


David comete novo pecado, o de ter feito o recenseamento do povo contra a vontade de Deus, levado certamente pelo orgulho de conhecer sobre quantos súbditos exercia o seu poder. O recenseamento do povo, por David, é um pecado porque, com ele, o rei mostra confiar mais nos efectivos humanos do que em Deus, por isso é que o rei sente remorsos e o profeta Gad anuncia um castigo. David pode escolher entre uma das três punições previstas pela Lei para quem atraiçoe a Aliança. David prefere a peste à guerra porque, um castigo vindo da mão de Deus, permite esperar na misericórdia divina. O profeta de Deus logo lhe anuncia o castigo e David acaba por interceder pelo povo, para quem pede a misericórdia do Senhor. Aí está presente a dialéctica da história da salvação: pecado, castigo, arrependimento, perdão.

Jesus começa a sua pregação em Nazaré, a terra onde Se tinha criado. A convivência, ao fim de tantos anos, no meio daquela gente não foi capaz de a levar a ver em Jesus mais do que o Filho do carpinteiro e a subir até ao Filho de Deus. Mas, em Nazaré, a terra onde viveu e Se criou, não encontrou Jesus estas disposições nos seus vizinhos e compatriotas; por isso, não pôde fazer ali qualquer milagre! A falta de fé dos seus conterrâneos impede Jesus de fazer entre eles milagres e prodígios, como tinha feito noutras terras. A fé é o único meio de reconhecer o Senhor. A experiência dos sentidos pode ser caminho para a fé, e normalmente é, se houver rectidão de coração, humildade de espírito e não existirem obstáculos vindos sobretudo de preconceitos e respeitos humanos injustificados.

Jesus entristece-se com a falta de fé dos seus conterrâneos. Também pela falta de confiança em Deus, David quis saber com quantos homens poderia contar para os seus combates. Acabou por reconhecer o seu pecado e pediu perdão ao Senhor, aceitando qualquer penitência que lhe fosse imposta. Quando fazemos alguma coisa que não agrada a Deus, não deixemos de recorrer à contrição com o propósito de não pecar mais no futuro.