Wednesday, December 29

Bolo de Mel


Não há madeirense que se preze que não conheça o bolo de mel. Esta doçaria cuja receita tem mais de 500 anos é o ex-libris da culinária madeirense e tem uma particularidade: não se parte com a faca mas sim à mão.
A receita foi sofrendo algumas introduções ao longo destes cinco séculos mas há ingredientes que nunca poderão mudar: o mel de cana-de-açúcar.
As duas receitas de referência do bolo de mel da Madeira são dos séculos XV-XIX e do século XIX até 1920 e foram alvo de uma pesquisa por parte do historiador e Mestre Dr. João José Abreu de Sousa, com a colaboração do Dr. João Dionísio, da Associação Memórias Gastronómicas que lançaram o livro "O bolo de mel, ex-libris da doçaria madeirense".
Este livro é mais do que um documentário material ao longos destes séculos pois evoca toda a nossa linguagem sentimental e espiritual com os produtos da terra e que temos de os transformar numa linguagem mnemónica, sensível e civilizacional, e que traz a cada um de nós, habituados desde tenra idade a conhecê-los nas cozinhas dos nossos pais, um rol de emoções a que não são alheios, sem dúvida o toque e o cheiro que esses produtos têm, aos quais se juntava a cor e o gosto do genuíno mel de cana de açúcar da ilha que envolvia esses mesmos produtos e o tempo... por aqui se vê que 'bolo de mel', para um madeirense, é sempre 'bolo de mel de cana de açúcar!
A história do mel de cana e do açúcar, o papel dos próprios doces no quotidiano, os rituais à mesa e a preparação e apresentação da comida que entrava na dieta dos madeirenses são ali tratados, juntamente com a definição do quadro económico e social da Madeira de então.
Os engenhos, a lenha, a colheita das canas e os impostos também entram nesta obra que fala do Funchal dos séculos XV e XVI, da revolução do doce, que permitiu à generalidade da população desfrutar de um prazer até então reservado a uma minoria.
O poder de conservação do mel de cana foi uma das razões que o tornaram precioso e a exportação dos doces também ficou na História. Nas receitas de referência do Bolo de Mel encontram-se duas do Convento de Santa Clara, o primeiro convento feminino da ilha da Madeira: uma do século XV - XIX e outra do Séc. XIX. Da primeira para a segunda foi introduzida a soda, que fez passar o tempo de fermentação de três para dois dias. Desta última para a receita do Séc. XX recolhida e também apresentada na obra foi incluído o leite. Segundo este livro, o Bolo de Mel foi criado na Madeira 'em honra à grande Festa da Família que é o Natal'. O facto de ser um bolo difícil de fazer por uma única pessoa incentivava a reunião familiar para a sua preparação.
O gosto e a maneira de fazer a receita evoluiu tendo no século XIX sido introduzida a soda. Reza a história que o bolo de mel de cana-de-açúcar surgiu no Convento de Monchique e, na Madeira, foi evoluindo de acordo com os progressos económicos.
No sentido de proteger esta iguaria regional, a AMG presta apoio jurídico à adesão ao uso da marca colectiva de certificado “Bolo de Mel de Cana da Madeira”, criada pelo Decreto Legislativo Regional n.º 20/M/2006, de 12/06.
Para mais informações vejam o site da Associação Cultural - Memórias Gastronómicas (AMG) em http://asmemoriasgastronomicas.blogspot.com.

Receita
Farinha - 4 Kg
Mel de Cana - 3 L
Açúcar de Cana - 1,5 Kg
Canela Moída - 125 gr
Erva-doce moída - 125 gr
Cravinho moído - 30 gr
Manteiga - 1 Kg
banha - 500 gr
Fermento - 2 pães (em massa)
Nozes - a gosto
Amêndoas - a gosto
Passas - a gosto
Cidra - a gosto
Levedura - um pouco
(Os bolos são cozidos três dias depois de amassados. O mel é usado bem quente, sem ferver)


Fontes: Dn Madeira, Jornal da Madeira, gastronomias da madeira e Associação memórias gastronómicas

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