Thursday, October 29

Dois testamentos uma só Bíblia

Com a devida vénia aqui fica um texto do Pe José Luís Rodrigues que sintetiza o meu pensamento acerca da Bíblia. Um texto tirado da Carta do Leitor de ontem:

A polémica levantada por José Saramago trouxe à ribalta uma série de pessoas, arredadas das questões religiosas, com opiniões muito interessantes sobre a Bíblia e sobre a religião. Graças a José Saramago por isso. Mas, temo que no fim nada reste senão mais uma polémica, onde cada um colocou a sua opinião e não chegamos a conclusão nenhuma nem muito menos restará uma síntese sobre as diversas visões.

Senti necessidade de expressar o meu ponto de vista e não pretendo opinar sobre o livro em causa, que ainda não li, mas que lerei oportunamente. Quero salientar que está a tornar-se perigoso separar a Bíblia em dois blocos estanques, Antigo Testamento e Novo Testamento. Não há um Deus do Antigo e outro Deus do Novo Testamento. Por isso, o Papa Bento XVI chama a atenção para dois aspectos muito importantes para a compreensão da Bíblia. Primeiro, é «fundamental para a compreensão teológica dos livros sagrados, a unidade das Escrituras. Segundo, é preciso dar «atenção aos géneros literários, o estudo do contexto histórico e o exame do que habitualmente se designa por Sitz im Leben (contexto vital)». O documento do Concílio Vaticano II sobre a Palavra de Deus a «Constituição Dogmática sobre a revelação divina» (Dei Verbum), confirma esta necessidade. Todos os estudos sobre a Bíblia também o atestam como caminho elementar para compreender a Revelação de Deus. Ainda cito, como prova disso, o teólogo católico talvez mais importante do século 20, a saber Karl Rahner que, de modo único, escreveu em 1957 o artigo importante «Antigo Testamento como período da história da salvação». 

É perigoso defender e ficarmos com a ideia de que o Deus do Antigo Testamento é o Deus tirânico e sádico, o Deus do Novo Testamento é o Deus bonzinho de Jesus Cristo, o Deus amor. Esta visão está errada e não serve para ninguém. Toda a Bíblia na sua diversidade é um todo e manifesta uma unidade convergente para a Pessoa e projecto de Jesus Cristo. Assim, encontrar a Palavra de Deus é encontrar a Cristo, dizia São Jerónimo. Sem ela, o Cristianismo torna-se vago, insustentável, insuficiente.

Nos dois Testamentos, descobre-se um Deus amor, compassivo e justo para todos e, especialmente, para as vítimas. Toda a história de Israel é, num face, uma história idêntica a todos os povos, cheia de sangue e de morte. Na outra, está um Deus bondoso, compassivo e justo que acompanha o seu povo e o conduz para a Terra Prometida - lembremo-nos da travessia do deserto, os Profetas e o Cântico dos Cânticos a título de exemplo.

O Antigo Testamento conduz para o Novo e este encontra as suas raízes históricas no Antigo. Jesus Cristo é o ponto de encontro dos dois Testamentos. Na verdade, em Jesus Cristo realizam-se as grandes aspirações do Antigo Testamento, do mesmo modo, que ele é o alicerce dos conteúdos do Novo. O Novo Testamento dá testemunho da ressurreição de Jesus Cristo e do dom do Espírito Santo que faz de nós membros da Família de Deus (cf. Rm 8, 14-16; Ga 4, 4-7). Mas este dom realizado em Cristo e proclamado pelo Novo Testamento tinha sido profetizado pelo Antigo Testamento (cf Jer 31, 31-33; Ez 36, 26-27). Assim, temos a Revelação de Deus em dois testamentos, com 73 livros, mas numa só Bíblia.

Morreu o padre dos Pastorinhos

Partiu sem assistir à canonização dos videntes Jacinta e Francisco Marto, mas o seu nome ficará para sempre ligado à história da mensagem de Fátima. O vice-postulador para a Causa da Canonização dos Pastorinhos, padre Luís Kondor, de 81 anos, morreu ontem, pelas 14h00, na sua casa, em Fátima."Estava consciente e faleceu sereno, no seu quartinho", contou ao CM a irmã Ângela Coelho, uma das pessoas que acompanharam os últimos momentos de vida do sacerdote. Acamado desde Julho, após dois anos a lutar contra uma doença oncológica, manteve sempre a lucidez e o espírito lutador que o caracterizavam. Não conseguiu vencer esta batalha, mas deixou um testemunho de determinação que fica perpetuado em algumas das fases mais importantes da história de Fátima, sobretudo no que se refere à divulgação das Aparições da Cova da Iria.
"Ele amava o Francisco e a Jacinta e entregou-se apaixonadamente à mensagem de Fátima. Era um exemplo de persistência e de sentido de entrega", adiantou Ângela Coelho, a futura vice-postuladora da Causa da Canonização.
Vocacionado para o sacerdócio "desde a infância", como o próprio confessou nas celebrações das suas bodas de ouro sacerdotais, abandonou a Hungria para escapar às invasões soviéticas. 
Em Fátima, encontrou alimento para as suas convicções. Tornou--se confidente da Irmã Lúcia e um apaixonado pela mensagem da Virgem Maria, que prometera a conversão da Rússia. Foi um dos principais impulsionadores na beatificação de Jacinta e Francisco Marto, começou a trabalhar na canonização, mas acabou por morrer antes de ver concluído o processo.
O corpo está em câmara ardente na capela do Seminário do Verbo Divino, na Cova da Iria. O funeral realiza-se amanhã, a partir das 11h00, na Basílica do Santuário, ficando o corpo sepultado no cemitério de Fátima.

in Correio da Manhã

Tuesday, October 6

Reflectindo: Domingo XXVII do Tempo Comum (III)

Hoje o Evangelho apresenta-nos novamente uma imagem que já ouvimos em domingos anteriores: Jesus abraça, abençoa e impõe as mãos sobre as crianças e alerta os Doze para a necessidade de acolher o Reino de Deus como uma criança, caso contrário não entrarão nele. De facto, só quem tem a simplicidade de uma criança é que é capaz de acolher o Reino de Deus, tendo uma relação de proximidade e absoluta confiança com o Pai e uma relação de verdade com os irmãos sem se preocupar com os seus interesses pessoais e com os privilégios.
Jesus é muito crítico face às situações familiares, faz uma grande insistência na união entre homem e mulher e ainda hoje as suas exigências ressoam no coração, na mente e na vida daqueles que pretendem unir-se em matrimónio.
Que a todos o Senhor abençoe e dê força, ânimo e coragem a todos os casais cristãos e que a sua vida seja luz e exemplo de amor, de compreensão, de compromisso e de fidelidade um ao outro e a Deus que os chama à felicidade no seu ambiente familiar.
Deixo-vos uma pequena oração que encontrei no livro de Caballero sobre a Palavra de cada domingo:
Obrigado, Pai, porque Jesus devolveu à fonte original
O amor entre homem e mulher, o matrimónio e a família,
Libertando-os do pesado lastro do egoísmo que o desintegra
E dignificando, ao mesmo tempo, a figura da mulher.
Tu estabeleceste a complementaridade dos dois sexos,
E não queres que o homem separe o que uniste para sempre.
Tu que és a fonte do verdadeiro amor e a ele nos chamas,
Ensina os jovens e adultos a crescer no amor cristão,
Que reflecte no matrimónio o de Cristo à Igreja.
Àqueles a quem chamas à virgindade pelo reino de Deus
Ajuda-os a viver com alegria a fidelidade de cada dia.
Ámen.

Reflectindo: Domingo XXVII do Tempo Comum (II)

O Evangelho deste Domingo insere-se no início do caminho que Ele tem de percorrer no território da Judeia a caminho de Jerusalém. Neste itinerário irá ser confrontado por vários assuntos e sucedem-se disputas: hoje Jesus é confrontado com a lei judaica do divórcio, ele afirma que o projecto ideal de Deus para o homem e para a mulher é que eles foram chamados a formar uma comunidade instável e indissolúvel de amor, de partilha e de doação.
A questão do divórcio e das condições em que ele seria legítimo contrapunha as escolas dos mestres judaicos: uns só o aceitavam em caso de adultério da mulher, enquanto outros admitiam como suficiente qualquer motivo, ainda que fútil. Jesus, porém, não se deixa enredar nestes debates entre escolas indo antes à raiz da questão. Começa por vincar que as cláusulas que existem na lei foram concedidas para responder à dureza de coração do homem, à sua incapacidade de entender e fazer a vontade de Deus; foi o pecado do Homem que veio tornar a lei necessária. Mas Jesus vai ainda mais longe, remontando à vontade do Criador antes do pecado: "No princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher… o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa e os dois serão uma só carne. Portanto não separe o homem o que Deus uniu. Jesus explica que, no projecto inicial de Deus, o homem e a mulher foram criados um para o outro para se completarem e para se ajudarem e para se amarem. Portanto, o divórcio não entra neste projecto: a Igreja não pretende apontar o dedo para ninguém ou condenar as pessoas divorciadas, apenas pretende apontar o caminho que é mais conforme a Palavra e os ensinamentos do Mestre. Marido e esposa, em igualdade de circunstâncias, são responsáveis pela edificação da família e por evitar o fracasso do amor e o apagamento da vivência conjugal.
Segundo o evangelista S. Marcos, e ao contrário da mentalidade que se tinha no tempo de Jesus, o homem e a mulher são postos no mesmo plano: os direitos são iguais e comete adultério quem os viola, independentemente do seu sexo. Na perspectiva cristã, o matrimónio é uma comunidade de vida e amor, é um sacramento e não apenas um mero contrato que se pode rescindir por uma das partes envolvidas.

Reflectindo: Domingo XXVII do Tempo Comum (I)

As leituras deste Domingo XXVII do Tempo Comum apresentam-nos o ideal de Deus para o homem e para a mulher: a formação de uma comunidade de amor estável e indissolúvel feito doação e entrega numa vida em família segundo os valores e os ensinamentos cristãos.
A primeira leitura é tirada do livro do Génesis: como todos nós sabemos este livro apresenta-nos a origem do mundo e de tudo aquilo que existe como criação de Deus, foi Ele que nos deu tudo aquilo que existe e nos deu a capacidade de dominar sobre todos os seres que criou. Este livro como também sabemos não se trata dum jornal ou duma revista informativa; não se trata de um conjunto de reportagens jornalísticas sobre acontecimentos passados no início da humanidade. A finalidade do autor bíblico não era nem de fazer um tratado científico nem um livro de história ou uma enciclopédia mas dar-nos um ensinamento mais teológico e espiritual; mais do que ensinar como o mundo e o homem apareceram, ele quer dizer-nos que na origem da vida e do homem está Deus.
Depois de criar o homem e de o colocar no jardim do Éden, Deus constatou que o homem sentia muita solidão: então fez desfilar diante dele todos os animais do campo e todas as aves do céu, para que ele os chamasse pelos seus nomes indicando assim que ele era a criatura mais importante porque foi criada à imagem e semelhança de Deus; toda a criação é feita para o bom serviço e proveito do homem. O homem não encontrou nesse mundo animal que Deus lhe confiou uma auxiliar semelhante a ele.Então o Senhor deus fez descer sobre o homem um sono profundo e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma costela, fazendo crescer a carne em seu lugar significando dessa maneira que a mulher é essa companhia que faltava para o homem, é o seu complemento. Há pois uma proximidade entre o homem e a mulher, há uma igualdade de natureza entre ambos. Ao contrário do que possa parecer, não há qualquer espécie de exaltação do homem ou rebaixamento da mulher mas na imagem da costela existe uma tentativa de transmitir a íntima relação entre ambos porque foram criados por Deus para viverem em harmonia, em mútua relação e em felicidade. Para indicar isso mesmo, os termos usados pelo hebraico, a língua original do texto que escutamos, as palavras "homem-mulher" são o mesmo vocábulo declinado no masculino ou no feminino: ish e isshah. Entre ambos estabelece-se uma verdadeira homogeneidade, uma comunhão tão íntima que faz deles uma só existência: por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa e os dois serão uma só carne. Isso implica a vivência em comunhão total um com o outro, dando-se um ao outro, partilhando a vida um com o outro e unidos por um amor que é mais forte do que qualquer outra coisa.

Pensamento do dia: 06-10-2009

Meu melhor amigo fugiu com a minha mulher. E quer saber? Sinto falta dele.
Jimmy Hendrix

Thursday, October 1

À pata

Ir a pé

Pensamento do dia: 01-10-2009

Mandai os arquitectos para as nossas montanhas para aprenderem o que a natureza entende por um arcobotante.
Ruskin