A nossa arte devia dar à natureza a excitação de continuar juntamente com a aparência de todas as suas mudanças. Devíamos habilitar-nos a sentir a natureza como coisa eterna. Cézanne
A moderna luz das cidades, em ligação com o movimento das ruas, provoca em mim novas sugestões. Estende-se pelo mundo uma nova beleza, que não reside no pormenor dos objectos. E. Kirchner
Sem vergonha, Ferreira do Amaral negociou contratos de um lado e renegociou-os do outro, deu benefícios de um lado e recebeu-os do outro. Editorial da 'Sábado' sobre as funções do ex-ministro actualmente na Lusoponte
Nas nossas novelas cada pequeno-almoço é um festim. A mesa posta, os criados fardados, as crianças fardadas, os pais acabados de sair não do banho mas da lavandaria e, sobre a toalha de linho, uma oferta que nem o Sheraton consegue igualar. Leonor Pinhão, no Correio da Manhã
Obviamente que agora estou mais perto de sair do que na altura em que entrei. Paulo Bento, treinador do Sporting, no Record
Em 1979, Sérgio Castro e Álvaro Azevedo (membros dos Arte & Ofício) dão corpo a um projecto paralelo a que chamam Trabalhadores do Comércio. A característica principal do grupo era o facto de cantar em português, com sotaque à moda do Porto, enquanto os Arte & Ofício construíram toda a sua carreira cantando em inglês. Também havia a questão das letras das músicas, que tinham um certo humor. O seu disco de estreia, editado em 1980, foi o single intitulado "Lima 5", cujo refrão rezava: "Eu só paro lá no Lima 5, Sou um meu de grabatinha e brinco". A voz do grupo era a do sobrinho de Sérgio Castro, João Luís Médicis, então com 7 anos. O grupo faz algumas primeiras partes dos Arte & Ofício e edita um novo single: "A Cançõm Quiu Abô Minsinoue" (traduzindo: A Canção Que o Avô Me Ensinou). O primeiro álbum "Tripas à Moda Do Porto" foi gravado em Londres e contém o tema mais conhecido da banda: "Chamem A Polícia". Outros temas, onde o humor tem lugar marcado são "Atom Messiu, Comantalê Bu" ou "Paunka Roque", para além de "Birinha", "Sim, Soue Um Gaijo do Pôrto" e "Quem Dera". O grupo toca muito num Bar do Porto chamado Chico's e tenta a edição de um EP "Alaibe At Chico's Bar" que nunca verá a luz do dia. Em 1982 é editado o segundo LP, "Na Braza", que não conseguiu penetrar no grande público e o grupo suspende as suas actividades. Temas deste disco são "Haxixa na Braza" e "Taquetinho Ou Lebas No Fucinho". Em 1986, os Trabalhadores concorrem ao Festival RTP da Canção com o tema "Os Tigres De Bengala", que se classificaria em segundo lugar. Esta classificação faz reacender a vontade de voltar a gravar um novo disco. Sérgio Castro, que entretanto se mudara para Vigo (Galiza), onde se dedica à produção de grupos no seu próprio estúdio Planta Sónica, reagrupa a banda e grava "Mais Um Membro Para A Europa" [uma edição Tigres de Bengala] que inclui uma versão dum tema de Adamo, a que os Trabalhadores do Comércio deram o nome de "Molharei La Farture Dans Ta Tasse Chaude". Depois de uma paragem de 4 anos o grupo volta a ressurgir em 1990, com João Luís Médicis já contando 17 anos e tocando baixo, e grava o disco "Sermões A Todo O Rebanho" que inclui os temas "Aim Beck USA", "Omo Sexual", "O Boto Útil (com Essa Nos Bais Fadando)", "Quem Toca Assim Num É Manco" (um solo de bateria de Azevedo) e uma versão de "Sex and Drugs and Rock'N' Roll" de Ian Dury justamente intitulada "Fado, Sexo e Vacalhau". Novamente o humor a ser a imagem de marca dos Trabalhadores do Comércio, que veriam editado, em 1996 um CD-Duplo intitulado "O Milhor Dos Trabalhadores Do Comércio", que inclui um "Bónus Traque" de uma gravação renovada de "Chamem A Pulíssia". Esporádicamente o grupo tem-se reunido para fazer espectáculos, sobretudo na sua cidade natal.
A liturgia deste domingo coloca a questão da vocação; e convida-nos a situá-la no contexto do projecto de Deus para os homens e para o mundo. Deus tem um projecto de vida plena para oferecer aos homens; e elege pessoas para serem testemunhas desse projecto na história e no tempo. A primeira leitura apresenta-nos uma personagem misteriosa – Servo de Jahwéh – a quem Deus elegeu desde o seio materno, para que fosse um sinal no mundo e levasse aos povos de toda a terra a Boa Nova do projecto libertador de Deus. A segunda leitura apresenta-nos um “chamado” (Paulo) a recordar aos cristãos da cidade grega de Corinto que todos eles são “chamados à santidade” – isto é, são chamados por Deus a viver realmente comprometidos com os valores do Reino. O Evangelho apresenta-nos Jesus, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Ele é o Deus que veio ao nosso encontro, investido de uma missão pelo Pai; e essa missão consiste em libertar os homens do “pecado” que oprime e não deixa ter acesso à vida plena.
Esse senhor não bate bem da bola. Diz que eu bati. Mas como é que isso é possível?! O meu carro nem deu sinal de ter batido! O meu carro não tem nada. O dele é que tem uns risquinhos. Odete Santos, ao '24 Horas', acusada de bater e fugir
Tudo se conjugava para que Katsouranis fizesse a sugestão em grego, mas optou por fazê-la no nosso doce idioma. Até fiquei com lágrimas nos olhos. Ricardo Araújo Pereira, na 'Visão', sobre o incidente do jogador grego com luisão, num jogo do benfica
Há dias em que sou comunista, noutros asocialista, libertária ou social-democrata. Ana drago, deputada do Bloco de esquerda, na 'Visão'
A liturgia deste domingo tem como cenário de fundo o projecto salvador de Deus. No baptismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projecto do Pai, Ele fez-Se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado e empenhou-Se em promover-nos, para que pudéssemos chegar à vida em plenitude. A primeira leitura anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Investido do Espírito de Deus, Ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são os de Deus. No Evangelho, aparece-nos a concretização da promessa profética: Jesus é o Filho/“Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude. A segunda leitura reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para concretizar um projecto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra.
O grupo Heróis do Mar é formado em Março de 1981, todos os elementos já tinham experiência musical em virtude de vários projectos realizados anteriormente. Magalhães e Gonçalves pretendiam com esta banda representar Portugal, a sua história e a sua cultura. A escolha do nome Heróis do Mar não foi portanto um mero acaso, foi tirado do primeiro verso do hino nacional português, A Portuguesa. Também o visual inicial da banda, caracterizado como algo neo-militarista, e as letras, que reflectiam, inicialmente e até certo ponto, a glorificação de um Portugal passado, não agradaram a muita gente. Aquando do lançamento do álbum de estreia, no Outono de 1981, a memória do Estado Novo estava ainda muito fresca e por essa razão a polémica instalou-se em torno do grupo, sendo inclusivamente acusado de fascista e neonazi. Os membros da banda afirmaram mesmo que eram proibidos de actuar a sul do rio Tejo. Em 1982, lançam o single Amor, que se torna um grande êxito, foi o primeiro máxi-single da história da industria discográfica portuguesa, 1º disco de platina atribuido a um artista português e o primeiro vinil português a ser tocado por dj's em clubes e discotecas.
Segundo o Elucidário Madeirense do Pe. Fernando Augusto da Silva e Carlos Azevedo de Meneses, a batata doce é originária da América do Sul, tendo sido introduzida na Madeira em meados do século XVII. Contudo, esta data não é consensual, pois o Professor Mendes Ferrão, autor da obra 'A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses' de 1992, refere que "os portugueses trouxeram a batata doce para a Europa e a sua cultura já era feita nos Açores, em 1538", e que, na "segunda metade do século XVI, a cultura da batata doce, ao contrário da batata comum, já estava muito divulgada em Portugal, Espanha e Itália", pelo que se acredita que a mesma tenha chegado à nossa Região antes da época referida no Elucidário Madeirense. A batata, como é conhecida entre nós, encontra boas condições de cultivo desde as proximidades do mar até aos 700 metros de altitude. Trata-se de uma planta rústica e de fácil cultivo. É cultivada na Madeira e no Porto Santo, sendo que os concelhos com maior área desta cultura são os de Santana, Ponta do Sol, Calheta, Machico e Ribeira Brava. A batata doce é feita só ou em consociação com couve, ervilha, feijão ou milho, ao longo do ano. Nas zonas mais frias, a plantação é realizada de Maio a Julho e a colheita efectuada entre Outubro e Dezembro. As pragas mais comuns nesta cultura são os ratos, o aranhiço vermelho, a 'cigarrinha', a 'traça' e a lagarta do 'besouro', e as doenças são sobretudo podridões. Depois da colheita, as raízes tuberosas, que são a batata doce, são limpas, lavadas e expostas ao sol e ao vento durante uns dias, para perderem humidade e assim se obter o melhor sabor e qualidade para a sua confecção culinária. No armazenamento, deve ter-se em conta um espaço coberto, seco e arejado. A batata doce de sabor e doçura característicos é servida como acompanhamento e pode ser degustada cozida ou assada, sendo ainda usada na doçaria e no pão caseiros. A 'rama' (parte aérea da planta) é aproveitada para forragem, isto é, serve para alimentação animal, em especial, porcos e vacas. A Região apresenta uma diversidade de variedades desta cultura, umas antigas e outras de introdução relativamente recente vindas da Venezuela e da África do Sul, trazidas pelos nossos emigrantes. Em 1908, na publicação 'Portugal Agrícola', o botânico Carlos Azevedo Menezes, já aqui mencionado, assinala as seguintes variedades: 'Rama-Inglesa', 'Rama-de-São-Martinho', 'Rama-Machiqueira' ou 'de Sandwich', 'Da-Madalena', 'Frisada', 'De-Graveto', 'Braço-de-Rei', 'Brasileira', 'Feiticeira', 'De-Cayenna' e 'Rama-da-Terra'. Em Fevereiro de 1942, o Engenheiro Agrónomo António Teixeira de Sousa, num trabalho publicado no boletim 'Frutas da Madeira', do Grémio dos Exportadores de Fruta e Produtos Hortícolas da Ilha da Madeira, indica as variedades 'Preta', 'Inglesa', 'Japonesa', 'Branca', 'Amarelinha', 'Graveto', 'Machiqueira' e 'Santinha' como as mais cultivadas na Região. As mais conhecidas e apreciadas são a 'Inglesa' e a 'Brasileira' que foram seleccionadas pelos agricultores ao longo dos tempos.
A lei antitabaco não quer saber dos nossos pulmões. Quer apenas saber das nossas carteiras. E também por isso penaliza brutalmente os proprietários que consintam clientes prevaricadores. Leonor Pinhão, no 'Correio da Manhã'
Sem pôr em causa o princípio da valorização do mérito, interrogo-me sobre se os rendimentos auferidos por altos dirigentes de empresas não serão, muitas vezes, injustificados e desproporcionados, face aos salários médios dos seus trabalhadores. Cavaco Silva, ao país
Depois do Euro 2000, tive dirigentes do Liverpool dentro do meu carro, o pessoal da Fiorentina foi ao hotel da selecção, fui contactado pelo Arsenal, o Aston Villa e o Valencia. João Pinto, no 'Público'
No início de um novo ano, marcado pelo desafio de Bento XVI à Igreja portuguesa para se modernizar, o SEMANÁRIO foi saber junto de vários dignitários da Igreja a sua posição sobre a melhor forma de corresponder aos anseios do Papa. Designadamente, como articular a necessidade de modernidade na Igreja, ainda recentemente pedida pelo Papa Bento XVI, com a necessidade de a instituição se afirmar como esteio da espiritualidade, virando o Homem para si próprio, designadamente lutando contra o paradigma mercantilista e consumista que hoje tudo parece dominar. Frei Bento Domingues, D. Carlos Azevedo, padre Carreira das Neves, padre Feytor Pinto, D. Januário Torgal Ferreira, D. Manuel Clemente, padre Peter Stilwell e o padre Vaz Pinto deram as suas opiniões. D. Manuel Clemente: "Uma espiritualidade que se queira cristã tanto desenvolverá a relação filial com Deus como a fraternidade concreta com todos e cada um." "A espiritualidade de Jesus, radica-se sempre na sua relação com Deus Pai e com os outros. Ele sabe e testemunha que amar o Pai é dar-se pelos outros. Como disse a Nicodemos: "Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna". Por isso mesmo, uma espiritualidade que se queira cristã tanto desenvolverá a relação filial com Deus como a fraternidade concreta com todos e cada um. Por aqui se obvia qualquer intimismo, mas também a redução ideológica da fé."
Feytor Pinto: "Bento XVI pediu fidelidade ao concílio Vaticano II" Mais do que modernidade, Bento XVI pediu aos cristãos de Portugal (não apenas aos Bispos) a fidelidade ao Vaticano II e, nesta, a mudança de mentalidades. O desafio de Bento XVI é de uma actualidade impressionante. Longe de avaliar negativamente a orientação da Igreja, dá linhas de acção que só uma comunidade viva pode levar à prática. O que pede o Santo Padre? - A participação de todos na vida da comunidade, o que supõe uma intervenção, com os valores cristãos, na sociedade nova que todos desejamos construir. - A "eclesiologia da comunhão", isto é, a unidade na diversidade, elemento essencial para influenciar positivamente o mundo que se deseja diferente, marcado pela justiça e pela liberdade em todas as situações. - A mudança de mentalidade, deixando definitivamente uma atitude egocentrista voltada para dentro, ou uma intervenção segundo interesses pessoais ou de grupo, ou uma visão moralista do mundo. A mentalidade que se pede deve estar inspirada no Concílio Vaticano II em que "pertence ao cristão leigo tratar da ordem temporal e orientá-la, segundo Deus, para que progrida e glorifique o Criador e Salvador". Pede-se uma Igreja aberta ao mundo, para o transformar na justiça e na caridade. - A mudança de organização é a adaptação das organizações da Igreja às realidades do tempo presente, num equilíbrio muito grande entre uma Igreja meramente sacramentalista ou uma Igreja apenas preocupada com o diálogo com o mundo mas sacrificando os valores espirituais e de exigências éticas indispensáveis. A Igreja deve estar presente no tempo, mas com as mãos sempre abertas para Deus. É claro que o paradigma do mercantilismo e do consumismo não pode ser a referência de uma Igreja viva, presente no mundo. Os valores de referência são mesmo, como dizia João XXIII, a verdade, a justiça, a liberdade e o amor, para conseguir a paz."
Padre Peter Stilwell: "A modernidade de 2007 estará já desactualizada em 2008" "Penso que o apelo vai sobretudo no sentido de uma renovada fidelidade à tradição viva do Evangelho. A modernidade de 2007 estará já desactualizada em 2008. Por aí, nunca mais acolheremos o desafio do momento presente. Mesmo quando tentamos programar uma resposta ao futuro, só sabemos imaginar "os amanhãs que cantam" como uma versão apurada ou negada do passado. Viver em cada instante a liberdade de quem procura radicar-se no essencial da existência humana - como no fulcro o fiel da balança - é a demanda espiritual que verdadeiramente interessa. Claro que descobrir esse "essencial" nos dá pano para mangas. Mas ninguém que tenha vivido ou testemunhado essa procura dormirá descansado/a na servidão do mercado ou do consumo."
Padre Vaz Pinto: "São necessários modelos vivos que mostrem que para ser feliz não é preciso muito" "Articular a necessidade de modernidade da Igreja com o modelo consumista que parece tudo invadir, é sem duvida uma das prioridades da acção e presença da própria Igreja: - trata-se sobretudo de uma questão de mentalidade, de cultura alternativa onde a austeridade e a partilha numa palavra, o ser e o amar valham mais que o ter, o prazer e o poder. São precisas palavras mas é sobretudo necessário exemplos e modelos vivos que mostrem que para ser feliz não é preciso muito e que aquele que mais partilha acaba por ser o que mais recebe."
D. Carlos Azevedo: "A modernidade a considerar é não andar por arrasto das modas passageiras" "A conciliação é obrigatória e interior, sem oposições. A modernidade a considerar é a atenção permanente aos tempos, às correntes culturais, à sensibilidade da época, não andar por arrasto das modas passageiras, de explicações sempre a aguardar outras. A espiritualidade cristã conduz a sair de si próprio. Se o cristão faz silêncio e pratica a contemplação encontrará a razão profunda de viver para os outros. Qualquer outra atitude é infiel ao cristianismo, é refúgio e isolamento, egoísmo caído de devoção." D. Carlos Azevedo refere, ainda, que a verdade da espiritualidade cristã conjuga acção em cima dos acontecimentos, fiel a cada hora da história, com a fidelidade à revelação de Deus. A conversão ao projecto de Deus é a melhor forma de corresponder aos ventos da história." Frei Bento Domingues: "Deviam ser os Bispos a confrontar o Papa com as orientações romanas que impedem os cristãos de serem modernos na fidelidade ao Evangelho." "Julgo que a pergunta deve ser mais circunstanciada. E porquê? Não digo que as hierarquias locais, que os Bispos das dioceses do mundo inteiro não "devam articular a necessidade de modernidade na Igreja com a necessidade de a instituição se afirmar como esteio da espiritualidade, virando o Homem para si próprio, designadamente lutando contra o paradigma mercantilista e consumista que hoje tudo parece dominar". Há, de facto, uma falta tão grande de inculturar a fé nas melhores aspirações humanas e de a tornar interpeladora daquilo que estraga a vida que é preciso ter a coragem de convocar as pessoas, os grupos, os movimentos, as paróquias para um grande esforço de criatividade em todas as dimensões da vida. Seria isto a "Nova Evangelização" de que falou João Paulo II. A repetição do mesmo, as respostas para as perguntas que não há e a falta de acompanhamento das grandes interrogações e experiências do nosso tempo, produzem o divórcio entre a fé e a cultura, entre a espiritualidade e a gestão do quotidiano. A espiritualidade cristã ou é incarnacionista ou é uma ilusão." Frei Bento Domingues acrescenta: "O pedido do Papa deve ser, em primeiro lugar, feito a ele próprio e à Cúria romana. A Modernidade - a maioridade e a autonomia na apreciação das realidades - deve ser reconhecida aos Bispos das Igrejas locais. Não deve vir tudo ditado de Roma. Deviam ser os Bispos a confrontar o Papa, Bispo de Roma, com as orientações romanas que impedem os cristãos de serem modernos na fidelidade ao Evangelho. Existe um "Cisma", na Igreja, desde a encíclica Humanae Vitae, de Paulo VI que, de documento provisório, já parece definitivo... Por razões de orientação da sexualidade, da família, da comunicação da vida, temos cada vez mais católicos excluídos da prática sacramental, do alimento da vida espiritual, da possibilidade de serem, semana a semana, confrontados com as exigências do Evangelho na vida toda. Aquilo que os Bispos portugueses deviam mostrar ao Papa seria o seguinte: Tem toda a razão em nos alertar para os nossos deveres e responsabilidades pastorais. Para isso aqui viemos, mas não só. Viemos também para lhe mostrar que algumas orientações romanas, por falta do exercício da colegialidade do Bispo de Roma com os outros Bispos, estão a dificultar o cuidado de pastores com os cristãos e não cristãos das nossas dioceses."
Padre Carreira das Neves: "Quando as pessoas não querem pensar em Deus porque lhes rouba a liberdade algo vai mal neste Reino da Europa Unida." Se Jesus, no seu tempo, combateu o mercantilismo religioso do Templo de Jerusalém, proferiu apóstrofes proféticas em relação aos ricos que desprezavam os pobres (o pobre Lázaro e o rico avarento que só pensava em si), necessariamente tudo faria para que o capitalismo selvagem não levasse a melhor. A verdadeira fraternidade nasce no interior do homem e, pela conversão aos direitos dos irmãos, estabelece políticas de justiça, trabalho, dignidade e amor. O homem não é um animal perfeito. Muito pelo contrário. Por isso, como pedia Jesus, necessita de conversão para o bem da humanidade. E como articular a Igreja com a modernidade? Será preciso, em primeiro lugar, perguntar o que se entende por modernidade. Se a modernidade tem a ver com a política dos direitos humanos, da liberdade e democracia, da justiça e da paz, da luta contra a fome e a guerra, a Igreja tudo deve fazer para percorrer essa estrada e anunciá-la, como dizia Paulo de Tarso em relação ao Evangelho, a gosto e a contra-gosto. Mas se a modernidade é viver de acordo com o relativismo do meu egoísmo egocêntrico, do que me agrada e dá prazer, do que a moda do mais fácil impõe, a Igreja só pode pregar como João Baptista pregava no seu deserto: cuidado com a vida sem rumo nem destino, raça de víboras, cabeças sem cabeça. Quando as pessoas, voluntariamente, não querem pensar em Deus e serem filhos e filhas de Deus porque lhes rouba a liberdade de serem o que querem ser, algo vai mal neste Reino da Europa Unida.
D. Januário Torgal Ferreira: "A Igreja tem de se abrir aos leigos." "É preciso que a Igreja saiba reconquistar os féis. Um número significativo abandonou, por exemplo, a Igreja porque esta defendeu o uso exclusivo dos métodos naturais. Por sua vez, a Igreja tem de dar lugar aos leigos. Só com devocionismo, procissões, é pouco. Leigos que levem os valores cristãos a vários sectores da sociedade civil, denunciando as guerras, lutando por salários justos. Nunca vi no seio da Igreja correntes para abolir a pena de morte ou discutir abertamente a sexualidade." D. Januário Torgal Ferreira refere, ainda, que há normas progressistas na Igreja que existem mas que não são acatadas, por exemplo a Pastoral dos divorciados, do tempo de João Paulo II, "não é divulgada, os crentes que são divorciados não sabem que são acolhidos da mesma forma na Igreja e afastam-se".
A história do homem é tão directa como a do trigo. Quando não se é semeado na terra para florescer, que importa? É-se moído para se ser transformado em pão. Van Gogh
A liturgia deste domingo celebra a manifestação de Jesus a todos os homens… Ele é uma “luz” que se acende na noite do mundo e atrai a si todos os povos da terra. Cumprindo o projecto libertador que o Pai nos queria oferecer, essa “luz” incarnou na nossa história, iluminou os caminhos dos homens, conduziu-os ao encontro da salvação, da vida definitiva. A primeira leitura anuncia a chegada da luz salvadora de Jahwéh, que transfigurará Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de todo o mundo. No Evangelho, vemos a concretização dessa promessa: ao encontro de Jesus vêm os “magos” do oriente, representantes de todos os povos da terra… Atentos aos sinais da chegada do Messias, procuram-n’O com esperança até O encontrar, reconhecem n’Ele a “salvação de Deus” e aceitam-n’O como “o Senhor”. A salvação rejeitada pelos habitantes de Jerusalém torna-se agora um dom que Deus oferece a todos os homens, sem excepção. A segunda leitura apresenta o projecto salvador de Deus como uma realidade que vai atingir toda a humanidade, juntando judeus e pagãos numa mesma comunidade de irmãos – a comunidade de Jesus.
A génese de uma obra é de carácter cósmico. O criador da obra é, portanto, o espírito. A obra existe abstractamente antes da sua materialização que a torna acessível aos sentidos humanos. Kandinsky
Dragões Diário 27-08-2024
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Porto para o aumento das assistências e explicou que os Dragões têm tentado *aproxi...