No início de um novo ano, marcado pelo desafio de Bento XVI à Igreja portuguesa para se modernizar, o SEMANÁRIO foi saber junto de vários dignitários da Igreja a sua posição sobre a melhor forma de corresponder aos anseios do Papa. Designadamente, como articular a necessidade de modernidade na Igreja, ainda recentemente pedida pelo Papa Bento XVI, com a necessidade de a instituição se afirmar como esteio da espiritualidade, virando o Homem para si próprio, designadamente lutando contra o paradigma mercantilista e consumista que hoje tudo parece dominar. Frei Bento Domingues, D. Carlos Azevedo, padre Carreira das Neves, padre Feytor Pinto, D. Januário Torgal Ferreira, D. Manuel Clemente, padre Peter Stilwell e o padre Vaz Pinto deram as suas opiniões.
D. Manuel Clemente: "Uma espiritualidade que se queira cristã tanto desenvolverá a relação filial com Deus como a fraternidade concreta com todos e cada um."
"A espiritualidade de Jesus, radica-se sempre na sua relação com Deus Pai e com os outros. Ele sabe e testemunha que amar o Pai é dar-se pelos outros. Como disse a Nicodemos: "Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna". Por isso mesmo, uma espiritualidade que se queira cristã tanto desenvolverá a relação filial com Deus como a fraternidade concreta com todos e cada um. Por aqui se obvia qualquer intimismo, mas também a redução ideológica da fé."
Feytor Pinto: "Bento XVI pediu fidelidade ao concílio Vaticano II"
Mais do que modernidade, Bento XVI pediu aos cristãos de Portugal (não apenas aos Bispos) a fidelidade ao Vaticano II e, nesta, a mudança de mentalidades. O desafio de Bento XVI é de uma actualidade impressionante. Longe de avaliar negativamente a orientação da Igreja, dá linhas de acção que só uma comunidade viva pode levar à prática. O que pede o Santo Padre?
- A participação de todos na vida da comunidade, o que supõe uma intervenção, com os valores cristãos, na sociedade nova que todos desejamos construir.
- A "eclesiologia da comunhão", isto é, a unidade na diversidade, elemento essencial para influenciar positivamente o mundo que se deseja diferente, marcado pela justiça e pela liberdade em todas as situações.
- A mudança de mentalidade, deixando definitivamente uma atitude egocentrista voltada para dentro, ou uma intervenção segundo interesses pessoais ou de grupo, ou uma visão moralista do mundo. A mentalidade que se pede deve estar inspirada no Concílio Vaticano II em que "pertence ao cristão leigo tratar da ordem temporal e orientá-la, segundo Deus, para que progrida e glorifique o Criador e Salvador".
Pede-se uma Igreja aberta ao mundo, para o transformar na justiça e na caridade.
- A mudança de organização é a adaptação das organizações da Igreja às realidades do tempo presente, num equilíbrio muito grande entre uma Igreja meramente sacramentalista ou uma Igreja apenas preocupada com o diálogo com o mundo mas sacrificando os valores espirituais e de exigências éticas indispensáveis. A Igreja deve estar presente no tempo, mas com as mãos sempre abertas para Deus.
É claro que o paradigma do mercantilismo e do consumismo não pode ser a referência de uma Igreja viva, presente no mundo. Os valores de referência são mesmo, como dizia João XXIII, a verdade, a justiça, a liberdade e o amor, para conseguir a paz."
Padre Peter Stilwell: "A modernidade de 2007 estará já desactualizada em 2008"
"Penso que o apelo vai sobretudo no sentido de uma renovada fidelidade à tradição viva do Evangelho. A modernidade de 2007 estará já desactualizada em 2008. Por aí, nunca mais acolheremos o desafio do momento presente. Mesmo quando tentamos programar uma resposta ao futuro, só sabemos imaginar "os amanhãs que cantam" como uma versão apurada ou negada do passado. Viver em cada instante a liberdade de quem procura radicar-se no essencial da existência humana - como no fulcro o fiel da balança - é a demanda espiritual que verdadeiramente interessa. Claro que descobrir esse "essencial" nos dá pano para mangas. Mas ninguém que tenha vivido ou testemunhado essa procura dormirá descansado/a na servidão do mercado ou do consumo."
Padre Vaz Pinto: "São necessários modelos vivos que mostrem que para ser feliz não é preciso muito"
"Articular a necessidade de modernidade da Igreja com o modelo consumista que parece tudo invadir, é sem duvida uma das prioridades da acção e presença da própria Igreja: - trata-se sobretudo de uma questão de mentalidade, de cultura alternativa onde a austeridade e a partilha numa palavra, o ser e o amar valham mais que o ter, o prazer e o poder. São precisas palavras mas é sobretudo necessário exemplos e modelos vivos que mostrem que para ser feliz não é preciso muito e que aquele que mais partilha acaba por ser o que mais recebe."
D. Carlos Azevedo: "A modernidade a considerar é não andar por arrasto das modas passageiras"
"A conciliação é obrigatória e interior, sem oposições. A modernidade a considerar é a atenção permanente aos tempos, às correntes culturais, à sensibilidade da época, não andar por arrasto das modas passageiras, de explicações sempre a aguardar outras. A espiritualidade cristã conduz a sair de si próprio. Se o cristão faz silêncio e pratica a contemplação encontrará a razão profunda de viver para os outros. Qualquer outra atitude é infiel ao cristianismo, é refúgio e isolamento, egoísmo caído de devoção." D. Carlos Azevedo refere, ainda, que a verdade da espiritualidade cristã conjuga acção em cima dos acontecimentos, fiel a cada hora da história, com a fidelidade à revelação de Deus. A conversão ao projecto de Deus é a melhor forma de corresponder aos ventos da história."
Frei Bento Domingues: "Deviam ser os Bispos a confrontar o Papa com as orientações romanas que impedem os cristãos de serem modernos na fidelidade ao Evangelho."
"Julgo que a pergunta deve ser mais circunstanciada. E porquê? Não digo que as hierarquias locais, que os Bispos das dioceses do mundo inteiro não "devam articular a necessidade de modernidade na Igreja com a necessidade de a instituição se afirmar como esteio da espiritualidade, virando o Homem para si próprio, designadamente lutando contra o paradigma mercantilista e consumista que hoje tudo parece dominar". Há, de facto, uma falta tão grande de inculturar a fé nas melhores aspirações humanas e de a tornar interpeladora daquilo que estraga a vida que é preciso ter a coragem de convocar as pessoas, os grupos, os movimentos, as paróquias para um grande esforço de criatividade em todas as dimensões da vida. Seria isto a "Nova Evangelização" de que falou João Paulo II. A repetição do mesmo, as respostas para as perguntas que não há e a falta de acompanhamento das grandes interrogações e experiências do nosso tempo, produzem o divórcio entre a fé e a cultura, entre a espiritualidade e a gestão do quotidiano. A espiritualidade cristã ou é incarnacionista ou é uma ilusão." Frei Bento Domingues acrescenta: "O pedido do Papa deve ser, em primeiro lugar, feito a ele próprio e à Cúria romana. A Modernidade - a maioridade e a autonomia na apreciação das realidades - deve ser reconhecida aos Bispos das Igrejas locais. Não deve vir tudo ditado de Roma. Deviam ser os Bispos a confrontar o Papa, Bispo de Roma, com as orientações romanas que impedem os cristãos de serem modernos na fidelidade ao Evangelho. Existe um "Cisma", na Igreja, desde a encíclica Humanae Vitae, de Paulo VI que, de documento provisório, já parece definitivo... Por razões de orientação da sexualidade, da família, da comunicação da vida, temos cada vez mais católicos excluídos da prática sacramental, do alimento da vida espiritual, da possibilidade de serem, semana a semana, confrontados com as exigências do Evangelho na vida toda. Aquilo que os Bispos portugueses deviam mostrar ao Papa seria o seguinte: Tem toda a razão em nos alertar para os nossos deveres e responsabilidades pastorais. Para isso aqui viemos, mas não só. Viemos também para lhe mostrar que algumas orientações romanas, por falta do exercício da colegialidade do Bispo de Roma com os outros Bispos, estão a dificultar o cuidado de pastores com os cristãos e não cristãos das nossas dioceses."
Padre Carreira das Neves: "Quando as pessoas não querem pensar em Deus porque lhes rouba a liberdade algo vai mal neste Reino da Europa Unida."
Se Jesus, no seu tempo, combateu o mercantilismo religioso do Templo de Jerusalém, proferiu apóstrofes proféticas em relação aos ricos que desprezavam os pobres (o pobre Lázaro e o rico avarento que só pensava em si), necessariamente tudo faria para que o capitalismo selvagem não levasse a melhor. A verdadeira fraternidade nasce no interior do homem e, pela conversão aos direitos dos irmãos, estabelece políticas de justiça, trabalho, dignidade e amor. O homem não é um animal perfeito. Muito pelo contrário. Por isso, como pedia Jesus, necessita de conversão para o bem da humanidade. E como articular a Igreja com a modernidade? Será preciso, em primeiro lugar, perguntar o que se entende por modernidade. Se a modernidade tem a ver com a política dos direitos humanos, da liberdade e democracia, da justiça e da paz, da luta contra a fome e a guerra, a Igreja tudo deve fazer para percorrer essa estrada e anunciá-la, como dizia Paulo de Tarso em relação ao Evangelho, a gosto e a contra-gosto. Mas se a modernidade é viver de acordo com o relativismo do meu egoísmo egocêntrico, do que me agrada e dá prazer, do que a moda do mais fácil impõe, a Igreja só pode pregar como João Baptista pregava no seu deserto: cuidado com a vida sem rumo nem destino, raça de víboras, cabeças sem cabeça. Quando as pessoas, voluntariamente, não querem pensar em Deus e serem filhos e filhas de Deus porque lhes rouba a liberdade de serem o que querem ser, algo vai mal neste Reino da Europa Unida.
D. Januário Torgal Ferreira: "A Igreja tem de se abrir aos leigos."
"É preciso que a Igreja saiba reconquistar os féis. Um número significativo abandonou, por exemplo, a Igreja porque esta defendeu o uso exclusivo dos métodos naturais. Por sua vez, a Igreja tem de dar lugar aos leigos. Só com devocionismo, procissões, é pouco. Leigos que levem os valores cristãos a vários sectores da sociedade civil, denunciando as guerras, lutando por salários justos. Nunca vi no seio da Igreja correntes para abolir a pena de morte ou discutir abertamente a sexualidade." D. Januário Torgal Ferreira refere, ainda, que há normas progressistas na Igreja que existem mas que não são acatadas, por exemplo a Pastoral dos divorciados, do tempo de João Paulo II, "não é divulgada, os crentes que são divorciados não sabem que são acolhidos da mesma forma na Igreja e afastam-se".
D. Manuel Clemente: "Uma espiritualidade que se queira cristã tanto desenvolverá a relação filial com Deus como a fraternidade concreta com todos e cada um."
"A espiritualidade de Jesus, radica-se sempre na sua relação com Deus Pai e com os outros. Ele sabe e testemunha que amar o Pai é dar-se pelos outros. Como disse a Nicodemos: "Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna". Por isso mesmo, uma espiritualidade que se queira cristã tanto desenvolverá a relação filial com Deus como a fraternidade concreta com todos e cada um. Por aqui se obvia qualquer intimismo, mas também a redução ideológica da fé."
Feytor Pinto: "Bento XVI pediu fidelidade ao concílio Vaticano II"
Mais do que modernidade, Bento XVI pediu aos cristãos de Portugal (não apenas aos Bispos) a fidelidade ao Vaticano II e, nesta, a mudança de mentalidades. O desafio de Bento XVI é de uma actualidade impressionante. Longe de avaliar negativamente a orientação da Igreja, dá linhas de acção que só uma comunidade viva pode levar à prática. O que pede o Santo Padre?
- A participação de todos na vida da comunidade, o que supõe uma intervenção, com os valores cristãos, na sociedade nova que todos desejamos construir.
- A "eclesiologia da comunhão", isto é, a unidade na diversidade, elemento essencial para influenciar positivamente o mundo que se deseja diferente, marcado pela justiça e pela liberdade em todas as situações.
- A mudança de mentalidade, deixando definitivamente uma atitude egocentrista voltada para dentro, ou uma intervenção segundo interesses pessoais ou de grupo, ou uma visão moralista do mundo. A mentalidade que se pede deve estar inspirada no Concílio Vaticano II em que "pertence ao cristão leigo tratar da ordem temporal e orientá-la, segundo Deus, para que progrida e glorifique o Criador e Salvador".
Pede-se uma Igreja aberta ao mundo, para o transformar na justiça e na caridade.
- A mudança de organização é a adaptação das organizações da Igreja às realidades do tempo presente, num equilíbrio muito grande entre uma Igreja meramente sacramentalista ou uma Igreja apenas preocupada com o diálogo com o mundo mas sacrificando os valores espirituais e de exigências éticas indispensáveis. A Igreja deve estar presente no tempo, mas com as mãos sempre abertas para Deus.
É claro que o paradigma do mercantilismo e do consumismo não pode ser a referência de uma Igreja viva, presente no mundo. Os valores de referência são mesmo, como dizia João XXIII, a verdade, a justiça, a liberdade e o amor, para conseguir a paz."
Padre Peter Stilwell: "A modernidade de 2007 estará já desactualizada em 2008"
"Penso que o apelo vai sobretudo no sentido de uma renovada fidelidade à tradição viva do Evangelho. A modernidade de 2007 estará já desactualizada em 2008. Por aí, nunca mais acolheremos o desafio do momento presente. Mesmo quando tentamos programar uma resposta ao futuro, só sabemos imaginar "os amanhãs que cantam" como uma versão apurada ou negada do passado. Viver em cada instante a liberdade de quem procura radicar-se no essencial da existência humana - como no fulcro o fiel da balança - é a demanda espiritual que verdadeiramente interessa. Claro que descobrir esse "essencial" nos dá pano para mangas. Mas ninguém que tenha vivido ou testemunhado essa procura dormirá descansado/a na servidão do mercado ou do consumo."
Padre Vaz Pinto: "São necessários modelos vivos que mostrem que para ser feliz não é preciso muito"
"Articular a necessidade de modernidade da Igreja com o modelo consumista que parece tudo invadir, é sem duvida uma das prioridades da acção e presença da própria Igreja: - trata-se sobretudo de uma questão de mentalidade, de cultura alternativa onde a austeridade e a partilha numa palavra, o ser e o amar valham mais que o ter, o prazer e o poder. São precisas palavras mas é sobretudo necessário exemplos e modelos vivos que mostrem que para ser feliz não é preciso muito e que aquele que mais partilha acaba por ser o que mais recebe."
D. Carlos Azevedo: "A modernidade a considerar é não andar por arrasto das modas passageiras"
"A conciliação é obrigatória e interior, sem oposições. A modernidade a considerar é a atenção permanente aos tempos, às correntes culturais, à sensibilidade da época, não andar por arrasto das modas passageiras, de explicações sempre a aguardar outras. A espiritualidade cristã conduz a sair de si próprio. Se o cristão faz silêncio e pratica a contemplação encontrará a razão profunda de viver para os outros. Qualquer outra atitude é infiel ao cristianismo, é refúgio e isolamento, egoísmo caído de devoção." D. Carlos Azevedo refere, ainda, que a verdade da espiritualidade cristã conjuga acção em cima dos acontecimentos, fiel a cada hora da história, com a fidelidade à revelação de Deus. A conversão ao projecto de Deus é a melhor forma de corresponder aos ventos da história."
Frei Bento Domingues: "Deviam ser os Bispos a confrontar o Papa com as orientações romanas que impedem os cristãos de serem modernos na fidelidade ao Evangelho."
"Julgo que a pergunta deve ser mais circunstanciada. E porquê? Não digo que as hierarquias locais, que os Bispos das dioceses do mundo inteiro não "devam articular a necessidade de modernidade na Igreja com a necessidade de a instituição se afirmar como esteio da espiritualidade, virando o Homem para si próprio, designadamente lutando contra o paradigma mercantilista e consumista que hoje tudo parece dominar". Há, de facto, uma falta tão grande de inculturar a fé nas melhores aspirações humanas e de a tornar interpeladora daquilo que estraga a vida que é preciso ter a coragem de convocar as pessoas, os grupos, os movimentos, as paróquias para um grande esforço de criatividade em todas as dimensões da vida. Seria isto a "Nova Evangelização" de que falou João Paulo II. A repetição do mesmo, as respostas para as perguntas que não há e a falta de acompanhamento das grandes interrogações e experiências do nosso tempo, produzem o divórcio entre a fé e a cultura, entre a espiritualidade e a gestão do quotidiano. A espiritualidade cristã ou é incarnacionista ou é uma ilusão." Frei Bento Domingues acrescenta: "O pedido do Papa deve ser, em primeiro lugar, feito a ele próprio e à Cúria romana. A Modernidade - a maioridade e a autonomia na apreciação das realidades - deve ser reconhecida aos Bispos das Igrejas locais. Não deve vir tudo ditado de Roma. Deviam ser os Bispos a confrontar o Papa, Bispo de Roma, com as orientações romanas que impedem os cristãos de serem modernos na fidelidade ao Evangelho. Existe um "Cisma", na Igreja, desde a encíclica Humanae Vitae, de Paulo VI que, de documento provisório, já parece definitivo... Por razões de orientação da sexualidade, da família, da comunicação da vida, temos cada vez mais católicos excluídos da prática sacramental, do alimento da vida espiritual, da possibilidade de serem, semana a semana, confrontados com as exigências do Evangelho na vida toda. Aquilo que os Bispos portugueses deviam mostrar ao Papa seria o seguinte: Tem toda a razão em nos alertar para os nossos deveres e responsabilidades pastorais. Para isso aqui viemos, mas não só. Viemos também para lhe mostrar que algumas orientações romanas, por falta do exercício da colegialidade do Bispo de Roma com os outros Bispos, estão a dificultar o cuidado de pastores com os cristãos e não cristãos das nossas dioceses."
Padre Carreira das Neves: "Quando as pessoas não querem pensar em Deus porque lhes rouba a liberdade algo vai mal neste Reino da Europa Unida."
Se Jesus, no seu tempo, combateu o mercantilismo religioso do Templo de Jerusalém, proferiu apóstrofes proféticas em relação aos ricos que desprezavam os pobres (o pobre Lázaro e o rico avarento que só pensava em si), necessariamente tudo faria para que o capitalismo selvagem não levasse a melhor. A verdadeira fraternidade nasce no interior do homem e, pela conversão aos direitos dos irmãos, estabelece políticas de justiça, trabalho, dignidade e amor. O homem não é um animal perfeito. Muito pelo contrário. Por isso, como pedia Jesus, necessita de conversão para o bem da humanidade. E como articular a Igreja com a modernidade? Será preciso, em primeiro lugar, perguntar o que se entende por modernidade. Se a modernidade tem a ver com a política dos direitos humanos, da liberdade e democracia, da justiça e da paz, da luta contra a fome e a guerra, a Igreja tudo deve fazer para percorrer essa estrada e anunciá-la, como dizia Paulo de Tarso em relação ao Evangelho, a gosto e a contra-gosto. Mas se a modernidade é viver de acordo com o relativismo do meu egoísmo egocêntrico, do que me agrada e dá prazer, do que a moda do mais fácil impõe, a Igreja só pode pregar como João Baptista pregava no seu deserto: cuidado com a vida sem rumo nem destino, raça de víboras, cabeças sem cabeça. Quando as pessoas, voluntariamente, não querem pensar em Deus e serem filhos e filhas de Deus porque lhes rouba a liberdade de serem o que querem ser, algo vai mal neste Reino da Europa Unida.
D. Januário Torgal Ferreira: "A Igreja tem de se abrir aos leigos."
"É preciso que a Igreja saiba reconquistar os féis. Um número significativo abandonou, por exemplo, a Igreja porque esta defendeu o uso exclusivo dos métodos naturais. Por sua vez, a Igreja tem de dar lugar aos leigos. Só com devocionismo, procissões, é pouco. Leigos que levem os valores cristãos a vários sectores da sociedade civil, denunciando as guerras, lutando por salários justos. Nunca vi no seio da Igreja correntes para abolir a pena de morte ou discutir abertamente a sexualidade." D. Januário Torgal Ferreira refere, ainda, que há normas progressistas na Igreja que existem mas que não são acatadas, por exemplo a Pastoral dos divorciados, do tempo de João Paulo II, "não é divulgada, os crentes que são divorciados não sabem que são acolhidos da mesma forma na Igreja e afastam-se".
Fonte: Jornal Semanário
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