Tuesday, June 1

Terça-feira da Semana IX do Tempo Comum

Leitura da Segunda Epístola de São Pedro (2 Pedro 3, 12-15a.17-18)
Caríssimos: Esperai e apressai a vinda do dia de Deus, em que os céus se dissolverão em chamas e os elementos se fundirão no ardor do fogo. Porque nós esperamos, segundo a promessa do Senhor, os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça. Portanto, caríssimos, enquanto esperais este dia,empenhai-vos, sem pecado nem motivo algum de censura, para que o Senhor vos encontre na paz. Considerai esta paciente espera do Senhor como uma oportunidade para alcançardes a salvação. Assim prevenidos, acautelai-vos, para não decairdes da vossa firmeza, arrastados pelo desvario dos ímpios. Crescei na graça e no conhecimento de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Glória a Ele, agora e por toda a eternidade. Amen.

Salmo 89
Refrão: Senhor, tendes sido o nosso refúgio através das gerações.

Antes de se formarem as montanhas e nascer a terra e o mundo, desde toda a eternidade Vós, Senhor, sois Deus.
Vós reduzis o homem ao pó da terra e dizeis: «Voltai, filhos de Adão». Mil anos a vossos olhos são como o dia de ontem que passou e como uma vigília da noite.
Os dias da nossa vida andam pelos setenta anos e, se robustos, por uns oitenta:
a maior parte são trabalho e desilusão, passam depressa e nós partimos.
Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade, para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias. Manifestai o vosso poder aos vossos servos e aos seus filhos a vossa majestade.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 12, 13-17)
Naquele tempo, foram enviados a Jesus alguns fariseus e partidários de Herodespara O surpreenderem no que dissesse. Aproximaram-se e disseram: «Mestre, sabemos que és sincero e não Te deixas influenciar por ninguém, pois não fazes acepção de pessoas, mas ensinas com sinceridade o caminho de Deus. É lícito ou não pagar o tributo a César? Devemos pagar ou não?». Mas Jesus, conhecendo a sua hipocrisia, respondeu-lhes: «Porque Me armais esse laço? Trazei-Me um denário para Eu ver». Eles trouxeram-no e Jesus perguntou-lhes: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles responderam: "De César». Então Jesus disse-lhes: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». E eles ficaram muito admirados com Jesus.

Reflexão
O autor da carta explica que são os novos céus e a nova terra que se espera e que se manifestará Cristo e se realizará, na justiça, o projecto de Deus. Mas, a manifestação do Senhor não se deve aguardar passivamente. Uma vida na piedade e na santidade pode apressar o dia do Senhor, pois torna já presente na história a justiça do esperado dia do Senhor. Há pois que viver imaculados e irrepreensíveis e em paz, tal como há-de acontecer no dia sem ocaso da vida futura. Mais importante do que procurar saber quando será o dia do Senhor, é viver na justiça e na santidade, o que conta é a magnanimidade do Senhor, que organiza os tempos e a história na amorosa perspectiva da salvação.
Alguns fariseus e partidários de Herodes, que se consideravam nacionalistas, mas colaboravam com os romanos, fingindo sinceridade, fazem a Jesus uma pergunta armadilhada. Queriam embaraçá-lo, tornando-O malvisto pelas autoridades romanas ou pela multidão. Jesus evita a armadilha, e aproveita a ocasião para oferecer um importante critério para a vida cristã: Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. Deus e César não se opõem, nem se colocam ao mesmo nível. O primado de Deus não retira ao Estado os seus direitos. O cristão deve obedecer a Deus, mas também aos homens. Em qualquer caso, obedece por causa de Deus e não por causa dos homens, porque toda a autoridade humana tem as suas raízes no Eterno. Este princípio está na origem da liberdade de consciência, afasta da idolatria do poder, leva a acolher a soberania da Igreja, mas também a do Estado.
A ocupação romana obrigava os judeus a pagar um tributo a César. Os saduceus e herodianos eram partidários do imposto; os fariseus consideravam-no ilícito; os zelotes opunham-se, mesmo pelas armas. Jesus lança-lhes em cara a sua hipocrisia e sentencia de forma soberana. Para os laicistas doentios, Deus e César excluem-se, sendo a fé e a religião assunto privado sem tecto social; para os teístas fanáticos, a autoridade civil deve estar ao serviço do Evangelho, mesmo pela força; para Jesus o César não se opõe a Deus, pois reconhece a autonomia do terreno.

Comentário ao Evangelho do dia feito por São Columbano (563-615), monge, fundador de mosteiros, Instrução 11, 1-4: PL 80, 250-252 (a partir da trad. Orval)
«De quem é esta imagem?»
Moisés escreveu na Lei: «Deus fez o homem à Sua imagem e semelhança» (Gn 1, 26). Peço-vos que considereis a importância desta afirmação: Deus, o omnipotente, o invisível, o incompreensível, o inestimável, ao formar o homem com o barro da terra, enobreceu-o com a imagem da Sua própria grandeza. O que têm em comum o homem e Deus, o barro e o espírito? Com efeito, «Deus é espírito» (Jo 4, 24). Foi, pois, uma grande prova de estima pelo homem ter-lhe Deus concedido a imagem da Sua eternidade e a semelhança da Sua própria vida. A grandeza do homem é a sua semelhança com Deus, desde que a conserve. [...]
Enquanto a alma fizer bom uso das virtudes nela semeadas, será semelhante a Deus. Deus ensinou-nos a remeter para Ele todas as virtudes que colocou em nós quando nos criou. Pede-nos, antes de mais, que amemos a Deus com todo o coração (Dt 6, 5), porque «Ele amou-nos primeiro» (1Jo 4, 10), amou-nos desde o começo, antes mesmo de existirmos. Amar a Deus é, pois, renovar em nós a Sua imagem. Ora, ama a Deus aquele que guarda os Seus mandamentos. [...]
Temos, pois, o dever de reflectir em honra do nosso Deus, do nosso Pai, a imagem inviolada da Sua santidade, porque Ele é santo e nos disse: «Sede santos como Eu sou santo» (Lv 11, 45); com amor, porque Ele é amor e João disse: «Deus é amor» (1Jo 4, 8); com ternura e em verdade, porque Deus é bom e verdadeiro. Não sejamos pintores de uma imagem infiel. [...] E, a fim de não introduzirmos em nós a imagem do orgulho, consintamos que Cristo pinte a Sua imagem em nós.

Pensamentos do Padre Dehon
Toda a autoridade vem de Deus: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». - «Que cada um se submeta às autoridades superiores, diz S. Paulo; porque não há autoridade que não venha de Deus; e todas as autoridades da terra são dispostas por Deus. Portanto, quem resiste às autoridades, resiste à ordenação de Deus, e atrai sobre si a maldição… O príncipe é o ministro de Deus para o bem. É o executor da vingança divina a respeito daqueles que fazem o mal. Devemos ser submissos, não apenas por temor, mas também por princípio de consciência. É por isso que pagais o tributo aos príncipes, porque eles são ministros de Deus no cumprimento da sua missão. Dai, portanto, a cada um o que lhe é devido: o tributo, o imposto, o temor e a honra (Rm 13, 1). Nosso Senhor, portanto, consolidou a autoridade de todos os poderes estabelecidos. Unamo-nos aos sentimentos do Coração de Jesus para com toda a autoridade estabelecida pela Providência. (Pe. Dehon, OSP4, p. 78)

Oração
Obrigado, Senhor, pela nossa história e pelo nosso tempo. Eles são teus e estão cheios de Ti. Vêm de Ti, e a Ti devem voltar, tal como eu, e cada um dos meus irmãos, com toda a nossa humanidade, com a nossa vontade de viver e de amar. Quando tal acontecer, quando testemunharmos que és a origem e o termo de quanto somos e temos, o nosso tempo entra na tua eternidade, e a nossa história torna-se história de salvação. A nossa vida celebra a tua soberania; a nossa morte será um regresso às origens. Perdoa que, tantas vezes, tenhamos tentado apoderar-nos do nosso tempo, e não tenhamos sabido esperar a novidade do teu dia. Perdoa que, tantas vezes, não tenhamos reconhecido a tua imagem nas coisas, e tenhamos tentado apoderar-nos delas, em vez de as reconduzirmos a Ti. Perdoa que, em vez de esperarmos os novos céus e a nova terra, tenhamos preferido apegar-nos a ilusões imediatas destes céus e desta terra. Ensina-nos a esperar o Dia do Senhor e, enquanto o esperamos, a sabermos «dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». Amen.

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