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Reflexão
O Domingo de Ramos dá início à Semana Santa, que culmina com a celebração do núcleo da nossa fé: o Mistério Pascal da morte e ressurreição de Jesus Cristo, a Páscoa. Somos convocados a viver a potência do amor que dá a vida.
No primeiro dia da Semana Santa, neste tempo tão excepcional, ao ouvir o Evangelho da Paixão segundo São Mateus, abramos o coração para procurarmos entender o mistério de Cristo. Ele é o Rei da mansidão, que renuncia aos títulos de rei e de pessoa importante, optando pela escolha consciente da não violência, do respeito e do agir pacífico. Ele não se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si próprio. Ele é o Servo Sofredor, é o Cordeiro inocente, humilde e obediente.
Este Evangelho coloca-nos perante diversos paradoxos, como o da numerosa e calorosa multidão, que acolhe o Messias no Monte das Oliveira, e uma multidão que condena um Jesus solitário e abandonado diante de Pilatos. Provavelmente, Mateus quer nos dizer que a fé como adesão a Cristo requer mais qualidade do que quantidade, mais profundidade, mais coerência, mais liberdade.
Há um convite repetido, no relato de Mateus, que, nestes dias, possui outro alcance e actualidade: Ficai aqui, enquanto Eu vou além orar; ficai aqui e vigiai comigo. O ficai aqui podia-se hoje traduzir por ficai em casa para suster a propagação deste invisível inimigo chamado coronavírus. Este é o tempo de estar em família, o que permite uma maior proximidade de cada membro, um maior convívio. Este é o tempo de estar inteiramente presente, qualquer que seja o momento: diálogo, silêncio, açcão, oração. Mas também exige um isolamento que chega a atrofiar alguns dos nossos hábitos, dos quais faz parte a presença física na comunidade paroquial e na sociedade.
Timothy Radcliffe, frade dominicano, lembra que este isolamento pode ser mais terrível do que a morte porque fere a nossa identidade: somos feitos para viver em comunhão, os contactos físicos moldam o nosso ser. Ele recorda que o centro da fé cristã também está envolvido por um total isolamento: foi erguido sobre a cruz e, acima da multidão, sem qualquer contacto, transformado em nu objecto. Naquele momento, Ele não só abraçou as nossas mortes. Ele fez totalmente sua a solidão que todos nós, por vezes, suportamos, e que milhões de pessoas estão hoje a viver.
As circunstâncias da Paixão sucedem-se para se cumprirem as Escrituras, segundo o itinerário feito pelo evangelista Mateus. A propósito disto, diz-nos o Papa Francisco que não só as Escrituras antigas tinham predito aquilo que Jesus havia de realizar, mas Ele próprio quis ser fiel àquela Palavra para tornar evidente a única história da salvação, que n’Ele encontra a sua realização.
Jesus continua a ser crucificado nos crucificados do mundo, nas vítimas dos egoísmos e das injustiças; também nos que, por estes dias, padecem com a pandemia do coronavírus. Sou capaz de ver aí mesmo o Cristo, padecente e sofredor, rosto do amor que se oferece em plenitude como vida, saúde e salvação?
Abramos o nosso coração a Cristo e vivamos esta Semana Santa na oração, no convívio, no encontro com Deus, na fraternidade que nos une como irmãos e fiquemos em casa.
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